Saiba mais sobre Energia eólica: em destaque no Brasil e no mundo
As fontes de energia renováveis registraram crescimento no último biênio (2023-2024) no Brasil, atingindo 49,1% da matriz do país no ano de 2023 (em 2021, o percentual era de 45%), segundo dados da Oferta Interna de Energia (OIE) divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (MNE).
Entre essas matrizes energéticas em ascensão, a eólica tem ganhado lugar de destaque no Brasil e no mundo, tanto em terra quanto no mar.
Hoje, a força dos ventos é responsável por 2,6% da energia limpa brasileira, segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2024 elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME).
"Seguimos liderando os diálogos mundiais sobre o tema, atraindo investimentos para aumentar cada vez mais o papel de protagonista do País na nova economia verde”, explica o ministro Alexandre Silveira sobre os dados divulgados."
Maior salto
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o mês de abril apresentou o maior salto registrado desde dezembro de 2023, representando uma expansão de 1.505,05 megawatts (MW) na matriz elétrica brasileira.
Grande parte desse avanço se deve à entrada de 20 usinas eólicas (559,90 MW) que, ao lado das novas 20 centrais solares fotovoltaicas (733,74 MW), alavancaram a geração de energia renovável, que também contou com o acréscimo de seis termelétricas a biomassa (208,51 MW) e uma central geradora hidrelétrica (3,00 MW).
Como funciona
Através de um aerogerador, a energia cinética das correntes de ar é transformada em energia elétrica. O processo de extração é feito por meio do rotor - que converte a energia cinética em energia mecânica - e do gerador, responsável por fazer essa força mecânica se tornar elétrica.
Entre as principais vantagens dessa matriz energética está a grande costa marítima brasileira, com condições ideais para a captação dessa energia, e o fato de ser uma fonte limpa e renovável que não emite gases poluentes nem gera resíduos na atmosfera.
Outro ponto positivo é a possibilidade dela ser instalada tanto em terra (onshore) quanto em alto mar (offshore), o que diversifica ainda mais o seu horizonte.
Ao contrário do Brasil, muitos países não possuem espaço territorial em condições de receber usinas eólicas, por isso a chamada eólica offshore tem se apresentado como grande oportunidade de investimento no mundo.
O governo brasileiro acompanhou essa tendência assinando, em dezembro de 2023, a adesão à Global Offshore Wind Alliance (GOWA), que reúne esforços de governos, setor privado, organizações internacionais e outras partes interessadas na implantação de energia eólica offshore.
Nesse cenário, o Brasil manteve sua posição no 6º lugar do Ranking Mundial de capacidade eólica acumulada elaborado pelo GWEC (Global Wind Energy Council), segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
Brasil de vento em popa
De acordo com a ABEEólica, até 2023 foram contabilizados 1.027 parques eólicos instalados no País, com geração de 30,45 GW de potência - o que representa um crescimento de 18,79% em relação a dezembro de 2022 quando a capacidade instalada era de 25,63 GW.
Hoje, a geração eólica corresponde a cerca de 15% da matriz elétrica brasileira, com 30 mil MW de potência instalada. Somando todas as fontes, a potência total do País chega a 200 mil MW. São 1.003 parques eólicos instalados em 12 estados, que abastecem 41 milhões de lares no Brasil.
Apenas em 2023, foram instalados 123 novos parques eólicos, num total de 4,8 GW de capacidade nova, superando, pelo terceiro ano consecutivo, o recorde de instalação eólica no Brasil, que é o terceiro país que mais instalou eólicas no mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos, segundo dados do GWEC (Global Wind Energy Council).
Nesse mesmo período, também houve recorde global de instalação com o total de 116,6 GW de capacidade instalada, segundo a ABEEólica.
“Os recentes compromissos com foco para a reindustrialização do Brasil e a necessária descarbonização da economia vai trazer um efeito importante no crescimento da indústria eólica."
"Nesta perspectiva, o ano de 2023 foi fundamental para o País se posicionar internacionalmente e trouxe sinalizações importantes para o ambiente de investimentos em preparação para o fortalecimento da indústria de energias renováveis, além de sinalizar para as novas tecnologias em desenvolvimento e a ascensão para um mundo descarbonizado”, escreveu Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica.
Nordeste
O Rio Grande do Norte lidera a produção de energia eólica no Brasil. O estado tem 293 parques eólicos em atividade, ficando atrás apenas da Bahia, com 319 sistemas instalados, mas mantendo-se como líder na potência em operação, com 9,43 gW, que representa quase 32% de toda a geração do País.
“O Brasil, nos últimos dois anos, se manteve como o terceiro maior mercado de energia eólica do planeta. E, não por acaso, todos os projetos de energia eólica estão sendo implantados na Região Nordeste”, avalia Everaldo Feitosa, Ph.D. em Engenharia Aeronáutica e Astronáutica pela Universidade de Southampton (Inglaterra).
Feitosa é diretor-presidente da Eólica Tecnologia Ltda, vice-Presidente da WWEA - World Wind Energy Association com sede em Bonn, na Alemanha e vice-Presidente do WWEI - World Wind Energy Institute, com sede na Dinamarca, membro do Conselho Editorial da revist a “Wind Energy” (Wiley Interscience, Londres), ex-diretor-presidente do CBEE - Centro Brasileiro de Energia Eólica, ex-professor da Universidade Federal de Pernambuco na área de Energia Eólica e Projeto de Estruturas e professor visitante da Universidade de Manitoba - Canadá.
Segundo o pesquisador, a região é geograficamente privilegiada.
“A condição de nós termos uma das melhores jazidas de vento do planeta é um ponto positivo e altamente otimista”, argumenta Everaldo Feitosa.
Condição geográfica
Os parâmetros que nortearam a entrada do País no setor de offshore estão relacionados à sua ótima condição geográfica.
“Primeiro, nós temos um mar na Região Nordeste com uma profundidade muito pequena. A profundidade aqui para a aplicação de offshore seria até 20, 30 metros, que seria uma vantagem competitiva em nível mundial. Então, essas condições são ideais”, comenta Everaldo Feitosa.
“Nós temos os melhores ventos offshore do planeta e também com a menor profundidade do oceano no planeta para usar o chão”, detalha Feitosa.
“Essas centrais vão ser colocadas a 10, 20 quilômetros da costa, praticamente sem nenhum impacto visual. Os parâmetros de vento e de nível do solo do oceano baixo favorecem esse tipo de energia, eólica offshore, para o Brasil."
"E o que norteia mais o Brasil a entrar nessa modalidade é a produção em grande escala de hidrogênio, o chamado hidrogênio verde, que é o futuro”, explica o professor Everaldo, que aponta para a geração de hidrogênio metano em substituição de combustível diesel, óleo de navio e gasolina de aviação.
“Essa perspectiva de hidrogênio faz com que grandes centrais de energia eólica no mar estejam junto com grande produção de hidrogênio para exportação. Então, nós temos uma oportunidade única na Região Nordeste, que é aproveitar a tecnologia eólica onshore e também offshore para a produção de hidrogênio.”
O investimento do governo brasileiro na energia eólica offshore está em sintonia com as demandas internacionais, diz o pesquisador. “É uma decisão que traz uma vantagem competitiva de empresas como Petrobras e outras gigantes e é bom para a região Nordeste.”
Eólica em Pernambuco
Pernambuco se manteve em sexto lugar na produção do País, com 41 parques eólicos instalados e 477 aerogeradores em funcionamento que produzem 1.086 gW de energia.
Em abril de 2024, oito aerogeradores e um total de 24 pás eólicas foram descarregados no Cais 4 do Porto de Suape.
Vindas da China, as hélices de 84 metros de comprimento - equivalente a um prédio de 28 andares - exigiram um grande esforço logístico.
Foi a maior carga do tipo desembarcada no atracadouro pernambucano. Operações semelhantes estão previstas para ocorrer até julho de 2025, totalizando 108 turbinas em 11 viagens até Suape.
Desafios e soluções
Apesar de ser uma energia limpa, a eólica também tem impactos socioambientais. A questão da poluição sonora, que pode afetar comunidades do entorno das turbinas, já está sendo vencida pelo avanço tecnológico.
Hoje, as mais modernas produzem o som equivalente a uma geladeira. Para minimizar esses impactos, é fundamental que o projeto seja bem planejado.
Outro gargalo da energia eólica, que já tem solução, é o fato de não ser considerada uma energia constante, o que pode ser superado com a combinação com a matriz fotovoltaica.
“A tecnologia de energia renovável tem evoluído muito e com uma rapidez tremenda. Hoje já é possível ter o que chamamos de ‘energia firme’ ou ‘energia constante’. As energias eólica e solar são fontes que variam em função do combustível, vento ou do sol."
"Hoje é possível, com a tecnologia existente, unir as energias eólica e solar. O vento é noturno, o sol é diurno. E essa complementaridade é feita por baterias”, explica o professor.
“O consumo de eletricidade vai aumentar. Principalmente com o consumo de energia elétrica para ar-condicionado. Essa é a tendência para o crescimento global. O consumo maior de energia para carros elétricos. Quando nós avaliamos essa evolução de carros elétricos em países, principalmente com a China e o Brasil, são os maiores mercados do mundo.”
Fonte: Folha de Pernambuco